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Terapia adaptada diminui mortes por febre amarela em 84%

Por Redação em 03/03/2025 às 09:25:03

A equipe de infectologia do Hospital das ClĂ­nicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) publicou os resultados da adaptação de protocolos de atendimento de hepatites fulminantes para casos de Febre Amarela, com aumento drĂĄstico de taxas de sobrevivĂȘncia entre os pacientes elegĂ­veis, na casa dos 84%.

A terapia, desenvolvida inicialmente para tratar casos graves de hepatite por uma equipe médica dinamarquesa, consiste no uso de transfusões de plasma sanguĂ­neo para, de certa forma, dar maior tempo ao corpo para se recuperar, à medida que a sobrecarga no fĂ­gado impede que o órgão regule toxinas e eleva a toxidade de elementos como a amônia no sangue. Diferentemente da infecção pelo vĂ­rus causador da febre amarela estes casos tinham melhora após poucos dias de tratamento, enquanto a equipe do HC percebeu melhora com tratamentos mais prolongados.

Normalmente, no Brasil, a terapia padrão para os casos graves é através de transplante de fĂ­gado, com alta taxa de mortalidade seja pela demora em sua realização, seja pela insuficiĂȘncia pois a manutenção da infecção leva parte dos pacientes a falecer. Um transplante de fĂ­gado não é algo simples, seja de se conseguir, seja de se realizar, e um paciente se recuperando da fase aguda da doença terĂĄ sua recuperação ainda mais difĂ­cil. No artigo é destacado que a alta mortalidade pela doença estĂĄ diretamente relacionada à resposta imune dos pacientes, que age como um mecanismo chave quando desregulada, à dinâmica da infecção viral, que pode se espalhar por outros órgãos e tecidos fora do fĂ­gado, e à carga viral, ou seja, à quantidade de vĂ­rus no organismo.

A médica Ho Yeh-Li, coordenadora da UTI de Infectologia do Hospital das ClĂ­nicas, em entrevista à AgĂȘncia Brasil, explicou que a terapia com plasma é relativamente simples e barata, principalmente se comparada à complexidade de um transplante de fĂ­gado. Em geral o plasma é um produto sanguĂ­neo com boa disponibilidade nos hemocentros, e o equipamento necessĂĄrio para sua transfusão é comum em hospitais de alta complexidade no paĂ­s. Os casos de morte, como um descrito no artigo, ocorreram em pacientes com predisposição para doenças no fĂ­gado, no caso um homem de 48 anos com histórico de uso excessivo de ĂĄlcool.

Na técnica desenvolvida pela equipe de Yeh-li, a terapia com transfusões foi aplicada duas vezes por dia, em sessões com duração entre uma hora e uma hora e meia, com equipe composta por enfermagem e um médico de referĂȘncia, quando necessĂĄrio com a aplicação de transfusões sanguĂ­neas. Sua duração pode variar, até a remissão da infecção. Nos casos da equipe da Dinamarca bastavam trĂȘs dias, o que normalmente não é suficiente para os pacientes com febre amarela, para os quais a diminuição das sessões tem de ser gradual.

Hospital das ClĂ­nicas de de São Paulo - Governo do Estado de São Paulo

Após o uso no surto paulista de 2018/2019 a terapia foi aplicada pelas equipes do Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, com resultados semelhantes.

O estudo foi realizado em parceria entre o departamento de Infectologia e Medicina Tropical e o Departamento de Gastroenterologia, além do Serviço de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, ambos do Hospital das ClĂ­nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em parceria com o Churchill Hospital, da Universidade de Oxford, e a Fundação Pro-Sangue.

Casos atualizados

A eficiĂȘncia do tratamento nos casos atuais, jĂĄ que São Paulo passa por novo perĂ­odo de aumento de casos, é baixa pois, segundo Yeh-li, eles não estão chegando aos hospitais de alta-complexidade. Para a médica, o problema estĂĄ na falta de treinamento adequado das equipes de unidades de atendimento primĂĄrio e secundĂĄrio, que não reconheceram os quadros de sintoma e não testaram os pacientes a tempo, remetendo-os para equipamentos com capacidade de resposta para este tipo de caso.

Para Yeh-li, essa é uma das possĂ­veis explicações também para a alta taxa de letalidade registrados em São Paulo, onde de 18 casos relatados 12 foram óbitos, mais de 60%. A taxa de mortalidade em 2018/2019 esteve no patamar de 35% dos casos. O aumento de casos este ano levou a Organização Mundial da SaĂșde (OMS) a divulgar um alerta para viajantes no Ășltimo dia 14.

Segundo a Secretaria de Estado da SaĂșde, 13 dos 18 casos tiveram como possĂ­vel local de infecção a região de Campinas (Amparo, Socorro, Tuiuti, Joanópolis, Valinhos, Campinas, Pedra Bela e Piracaia); um caso tem como possĂ­vel local de infecção a região de Bauru (Brotas); um caso tem como possĂ­vel local de infecção a região Piracicaba (São Pedro); um com local provĂĄvel de infecção a região de São José dos Campos (Caçapava); um caso o possĂ­vel local de infecção estĂĄ sob investigação e o Ășltimo caso é importado, tendo sido contraĂ­do em Minas Gerais.

A pasta tem reforçado os esforços de orientação às prefeituras, que levam a vacinação a cabo. Dos 12 mortos, 11 não haviam sido vacinados. Em 2024 foram registrados dois casos humanos de febre amarela no estado de São Paulo: um autóctone e outro importado, que resultou em óbito.

Também neste ano, foram confirmados 36 casos de febre amarela em primatas não humanos no estado, sendo 23 na região de Ribeirão Preto (Ribeirão Preto e Pitangueiras), 11 na região de Campinas (Pinhalzinho, Campinas, Serra Negra, Socorro, Joanópolis, Amparo e Valinhos), um na região de Barretos (Colina) e um na Grande São Paulo (Osasco). Avistamento de macacos mortos é um evento que pode ter relação com casos da doença e deve ser informado para as autoridades de vigilância epidemiológica da cidade onde ocorrer.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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