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Coluna Prestes, maior marcha militar do mundo, completa hoje 100 anos

Por Redação em 28/10/2024 às 08:50:54
Foto: BBC

Foto: BBC

Maior marcha militar do mundo, a coluna Prestes, que alguns historiadores dizem que mais apropriadamente deveria ser chamada de coluna Miguel Costa - Prestes, completa 100 anos nesta segunda-feira (28). Com 1.500 homens e mulheres, a maioria soldados de baixa patente, a marcha percorreu cerca de 25 mil quilômetros, em dois anos e meio, passando por vĂĄrios estados, e jamais chegou a ser oficialmente derrotada.

Apesar de mais conhecida como Coluna Prestes por causa de seu lĂ­der mais famoso, LuĂ­s Carlos Prestes, o movimento rebelde teve também o comando de Miguel Alberto Crispim Rodrigo da Costa. Argentino naturalizado brasileiro, militar da Força PĂșblica de São Paulo, ficou notabilizado por sua participação na Revolta Paulista de 1924, conflito entre militares de São Paulo e o governo de Artur Bernardes, embrião da coluna. Por isso, muitos nomeiam o famoso movimento como Coluna Miguel Costa – Prestes.

"Se não fosse Miguel Costa, não existiria LuĂ­s Carlos Prestes na história, pois foi a coluna Miguel Costa que salvou da fome e do frio os gaĂșchos de Prestes", disse o jornalista Yuri Abyaza Costa, autor dos livros Miguel Costa, um herói brasileiro e Marchando com Miguel Costa – ação da Coluna Paulista no Interior de São Paulo, ParanĂĄ e a ligação com a Coluna Prestes. Yuri é neto de Miguel Costa.

Yuri Abyaza refere-se ao episódio quando, derrotados na Revolta Paulista pelas forças do governo federal, os revoltosos paulistas juntaram-se aos comandados por Prestes, que liderava o agrupamento no Rio Grande do Sul, que estaria com seu contingente bastante debilitado fĂ­sica e militarmente. A partir daĂ­, iniciou a marcha da famosa coluna, acontecimento mais emblemĂĄtico do que ficou conhecido como "Tenentismo".

Se Miguel Costa era o estrategista militar da Coluna, Prestes, por seu lado, é lembrado pelo seu lado mais "humano" junto aos comandados, conforme depoimento do jornalista Domingos Meirelles, ao programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, exibido em 2015. Meirelles, autor do livro As Noites das Grande Fogueiras, também sobre a Coluna, disse que "Prestes era muito querido pela tropa".

Segundo o jornalista, "ele usava alguns horĂĄrios livres para alfabetizar os soldados, ficava sempre ao lado daqueles que eram vĂ­timas de ferimentos graves e com chances remotas de sobreviver". Meirelles lembrou ainda que, apesar de o principal adversĂĄrio da Coluna ser o Exército Brasileiro, os maiores inimigos da coluna no dia a dia das batalhas foram os latifundiĂĄrios, "que armando os seus capangas, incentivados pelo governo, formaram os chamados batalhões patrióticos". "E aĂ­ é que começa realmente a desgraça dos jovens rebeldes. Esses homens do campo é que infernizaram a vida da coluna muito mais do que o Exército Brasileiro", completou.

Mas o movimento nunca chegou a ser efetivamente derrotado. A coluna Prestes (ou Miguel Costa-Prestes) foi marcada pelo aspecto insurrecional contra o poder das oligarquias das primeiras décadas do século passado, a chamada polĂ­tica do café com leite, quando se revezavam na PresidĂȘncia da RepĂșblica polĂ­ticos da São Paulo cafeeira e Minas, grande produtor de leite. Também ficou conhecida pela formação de seus quadros, militares dos escalões inferiores do Exército sendo muitos deles analfabetos ou semiletrados e trabalhadores do campo.

O jornalista e historiador, especializado no perĂ­odo, Moacir Assunção, autor de São Paulo deve ser destruĂ­da: a história do bombardeio à capital na revolta de 1924, comentou que "a Coluna tem o lugar que merece (na História do Brasil), foi a maior marcha militar da história do mundo, com 25 mil quilômetros percorridos e a derrota de 11 generais da legalidade pelos rebeldes, permanecendo invicta durante todo o tempo e inspirando revolucionĂĄrios como Mao Tse Tung e Fidel Castro, que confessam a inspiração de suas marchas na Coluna Miguel Costa-Prestes, além de ter influenciado no fim da chamada vocação agrĂĄria do Brasil, que passou a se tornar um paĂ­s industrial depois da vitória da Revolução de 1930".

As principais reivindicações da Coluna eram a implementação do voto secreto (contra o chamado "voto de cabresto", praticado à época quando os chefes da polĂ­tica local controlavam o voto da população local), a defesa do ensino pĂșblico e a obrigatoriedade do ensino secundĂĄrio para a população, somando-se as bandeiras do fim da miséria e da injustiça social no paĂ­s.

"A grande força da coluna foi sua associação com as bandeiras populares que ela defendia, como o direito ao voto universal, o direito à alfabetização, a reforma agrĂĄria, o fim da pobreza e ter conseguido transmitir esse ideal de que era preciso trazer o Brasil para os brasileiros", disse a socióloga, cientista polĂ­tica e escritora Ana Prestes, neta do revolucionĂĄrio, que se tornou a principal referĂȘncia do movimento comunista do paĂ­s e uma das personalidades polĂ­ticas mais influentes do século passado.

"A Coluna foi formada por homens e mulheres (poucas e resistentes) que amaram o Brasil por dentro e que se conectaram com a população brasileira abandonada pela RepĂșblica Velha", completou Ana.

Como o movimento nunca foi, de fato, debelado pelo poder oficial sua herança foi ter deixado o governo oligĂĄrquico com suas bases enfraquecidas. As crĂ­ticas manifestadas pelos integrantes da Coluna, ecoadas por outros setores polĂ­ticos dissidentes da sociedade, foram reforçadas.

E também contribuiu fortemente para a revolução de 1930, ou Revolução de Outubro, ocasião em que os governos rebeldes de Minas Gerais, ParaĂ­ba e Rio Grande do Sul, deram um golpe de estado tirando o então presidente Washington LuĂ­s da presidĂȘncia da RepĂșblica e impedindo a posse de seu substituto JĂșlio Prestes. GetĂșlio Dornelles Vargas, militar e polĂ­tico do Rio Grande do Sul, inaugurando a chamada "era Vargas", perĂ­odo que foi de 1930 a 1945, sendo que de 1937 a 1945 instalou a ditadura do Estado Novo.

Fonte: EBC

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